Contos

O Cafajeste. Pt.1

Era uma quinta-feira à tarde, o calor agoniava e o tédio dominava, resolvi ir na praça tomar um sorvete. Chegando lá, encontro uma amiga que não via há um bom tempo.

- Renan, quanto tempo! - disse ela surpresa.

- Olá, Aline, realmente, você sumiu. - falei também surpreso.

- Tive que fazer umas coisas, mas estou aqui agora. E aquele seu rolo, como está?

- Está bem, eu acho.

- Acha? - perguntou Aline com uma expressão de dúvida.

- Sim, estava tudo bem até ela começar a soltar umas indiretas, acho que ela quer que eu a peça em namoro.

- Oh! Renan, que coisa linda e o que você fará?

- Nada!

Aline ficou imóvel, talvez a minha resposta seca a deixou espantada.

- Mas por quê?

Eu fiquei em silêncio por alguns minutos, mergulhei nas minhas lembranças, vi o meu passado de uma forma tão intensa que meu coração encolheu. Lá se via um Renan que não merecia nenhum amor que ganhara, nenhum carinho que conquistara, muito menos as palavras que escutara. Minhas lembranças caíram como facas em minha consciência, me acanhei e disse:

- Eu acho que não presto. - falei cabisbaixo.

- Hã? - disse Aline espantada.

- Eu tive alguns relacionamentos e eu não fui fiel em nenhum deles, isso é muito chato.

- Você se arrepende, Renan?

- Sim!

- Então esqueça isso, é passado!

- Mas eu não sei, Aline, é muito complicado.

- Você está confuso, você deve gostar muito dela.

- Creio que sim.

- E por que todo esse medo?

- Não é necessariamente medo, é que traição faz parte da natureza humana, é como se fosse algo que você luta pra não fazer e reluta pra desistir quando se está diante. Eu sou carinhoso, falo coisas bonitas, faço coisas bonitas, mas isso me deixa pior. - meus olhos enchiam-se de lágrimas.

- Poxa! Renan, não fica assim.

Aline ficou comovida com meu desabafo e como amiga me deu um abraço na tentativa de tentar confortar-me.

- Realmente, Renan, você é um rapaz muito meigo, muito sincero, é o tipo de rapaz que toda garota gostaria de ter. Esqueça o passado, eu tenho certeza que você aprendeu e vai evitar que isso aconteça.

- Eu acho que sim, tudo indica que sim. Mas tem algo que me deixa muito abalado também, Aline.

- Pode desabafar. - disse Aline tão comovida que sua feição era de preocupada.

- Olha, Aline! Demorei para criar coragem e te falar isso, mas eu gosto de você.

- Hã? - disse Aline espantada novamente, afastando meu corpo do seu.

- Sério! Desde a última vez que o vi o seu sorriso, ele não tem saído da minha cabeça de forma alguma, foi difícil segurar meu coração no momento em que te vi aqui na praça, a saudade era tão grande que eu pensei que não era você de verdade, que era apenas coisa da minha cabeça.

- Hum! Renan eu estou sem palavras, você é tão fofo. Mas desculpa, você está com uma pessoa que gosta de você, não acho digno fazer isso com ela.

- Mas e se eu terminar com ela?

Aline manteve-se em silêncio.

- Quem cala consente?

- Talvez!

Eu a abracei novamente e comecei a mexer no seu cabelo, ao mesmo tempo eu falava algumas coisas em seu ouvido e isso tudo a deixou encantada.

- Renan, você não existe!

- Mas tive que existir por que você existe.

Aline não resistiu, encostou seus lábios nos meus e beijou-me.